“Margem zero”: Um Orçamento politicamente desarmadilhado e com boas notícias

O prazo de entrega do Orçamento do Estado era dia 10 de outubro. Contrariando a tradição dos seus antecessores, Joaquim Miranda Sarmento voltou a entregar cedo o documento. Na verdade, um dia antes do previsto, mas ainda na reta final da campanha das autárquicas deste domingo. O Orçamento para 2026, avisou o ministro das Finanças, tem “margem é próxima de zero”, para as contas baterem certo e acabarem no excedente orçamental de 0,1%, cerca de 230 milhões de euros, que Miranda Sarmento estabeleceu como meta. Um aviso à oposição, que (tanto no Chega como no PS) gostaria de tornar permanentes os aumentos aos pensionistas dados agora como bónus, num documento em que ficam de fora a descida do IRC, a ideia da “renda moderada” que agora aparece como “renda acessível” sem se perceba o que quer isso dizer e o valor da venda da TAP, mas também o fim do desconto no Imposto Sobre Combustíveis (ISP) que só se sabe que é para acabar “gradualmente”.
De resto, as isenções fiscais prometidas para os senhorios que pratiquem rendas até 2300 euros e o aumento de deduções nas despesas com rendas para inquilinos não têm ainda tradução neste Orçamento. “Vão vigorar em 2026 mas irão produzir efeitos quando as pessoas entregarem a sua declaração de IRS de 2026 em abril ou maio de 2027”, explicou o ministro.
Mesmo com várias incógnitas, este Orçamento tem uma boa dose de boas notícias, algumas das quais já eram conhecidas. Uma delas é a descida no IRS para os escalões entre os 2.º e o 5.º e uma atualização de 3,5% dos limites das tabelas. Isso quer dizer que se pagará menos imposto, de acordo com o que foi acordado com o Chega. Mas ainda assim, esta atualização das tabelas fica abaixo do valor de referência de 4,5% para os aumentos salariais previsto neste Orçamento. Contas feitas, são menos 111 milhões de euros de IRS no Orçamento.
Mais despesas em Saúde, Educação, Segurança e DefesaOutra promessa de sinal positivo vai para a Saúde, embora ainda sem muitos detalhes. “Pretende-se valorizar os profissionais de saúde, implementando novos modelos de incentivo à fixação em zonas e unidades de saúde carenciadas e investindo na formação contínua, promovendo modelos de flexibilidade”, afirmou Miranda Sarmento. O que se sabe é que o Orçamento para a Saúde sobe 1,5% e ultrapassa os 17 mil milhões, estando previsto que as despesas com pessoal subam 5% e que haja uma redução de 10% na aquisição de bens e serviços em relação ao previsto para este ano.
Na Educação o Orçamento sobe 4,5%. O Governo quer “valorizar” a carreira dos professores, contratar mais docentes e aumentar o dinheiro dado aos privados pelo Estado. Este Orçamento prevê gastar com os trabalhadores do setor da Educação 6 209,1 milhões de euros, mais 3,5% do que em 2025 e quase mais 300 milhões para o ensino superior e ciência.
Também a subir está o investimento em segurança. Está previsto que a despesa com a Segurança Interna vá crescer 11,4%, uma variação que pode ser explicada pelos aumentos nas despesas com o pessoal (de 2,7%) e aquisição de bens e serviços (de 8,5%).
Na Defesa, os gastos devem chegar agora aos 2% do PIB, com um aumento de 25%, ou seja, mais 772 milhões. “A participação em missões internacionais com forças e elementos nacionais destacados será, por isso, reforçada ao longo dos próximos anos”, lê-se na proposta de Orçamento do Estado para 2026.
Também a Cultura cresce 21,9% no próximo ano, totalizando de 638,1 milhões de euros. Com uma novidade surpreendente: a “valorização do património histórico e cultural da defesa nacional, com o objetivo de criar uma Rede Nacional de Turismo Militar aberta ao público, permitindo a rentabilização e recuperação de ativos históricos, museológicos, religiosos e culturais das Forças Armadas”.
Como já se sabia, o valor de referência para o Complemento Solidário para Idosos vai aumentar 40 euros para os 670 euros, este ano. Uma medida que tem um impacto orçamental de 140 milhões de euros.
O Orçamento já tem em conta uma descida de IRC que pressupõe uma queda de 300 milhões de euros na receita do Estado. E o fim da contribuição adicional de solidariedade que era cobrada aos bancos e que foi decretada inconstitucional, fazendo desaparecer mais 40 milhões dos cofres públicos.
Salário mínimo sobe 50 eurosO Governo prevê um crescimento económico de 2,3% e a despesa pública abaixo dos 88% do PIB. “O País continuar a ter equilíbrio orçamental e continuar a reduzir a dívida pública 3-4 pontos percentuais ao ano”, garante o ministro.
O emprego deverá crescer 0,9%, face a uma estimativa de crescimento em 2025 de 1,7%, enquanto a taxa de desemprego deve ficar nos 6% em 2026 face aos 6,1% deste ano.
O salário mínimo nacional sobe para os 920 euros, ou seja, são mais 50 euros por mês para os salários mais baixos. Muito abaixo dos 1.184,50 euros do salário mínimo espanhol.
Visao